Entrevista com o bispo Sérgio Correa

No auge da carreira, atleta abandona o futebol para atender ao chamado de Deus. Ele fala sobre a busca pelo sucesso profissional e a realização em fazer parte da família Igreja Universal
O semblante sério logo é substituído pelo olhar atencioso de quem parece estar sempre pronto a servir. Assim é o Bispo Sérgio dos Santos Correa, 46 anos. Nascido na capital do Rio de Janeiro (RJ), ele é, atualmente, o responsável pelo trabalho evangelístico da Igreja Universal do Reino de Deus no estado de Alagoas, atividade que exerce junto com a esposa Daisy Baptista Correa, com quem é casado há 24 anos, e o filho Victor Correa.

O pai era gráfico e a mãe uma dona de casa que engravidou dele quando já estava com 40 anos de idade. Uma família oficialmente católica, durante a semana, e frequentadora das casas de encostos, às sextas-feiras. Em entrevista exclusiva, o Bispo Sérgio Correa fala sobre o passado de sofrimento, o período em que foi jogador de futebol profissional e a realização de servir a Deus.

Como foi a infância do senhor?

Assim que eu nasci, minha mãe descobriu um relacionamento extraconjugal do meu pai e decidiu que, a partir daquele momento, o casal dormiria em quartos separados. Uma decisão que durou por toda a vida.

Meu pai, apesar de ser um bom profissional, mergulhou no vício da bebida, envergonhando a família. Os fins de semana e datas festivas eram sempre um tormento. As brigas entre os familiares ocorriam dentro e fora de casa. Meu pai ainda mexia com as esposas de outros homens, despertando a ira dos vizinhos. Lembro-me que, certa vez, um desses homens foi até a minha casa tentar matá-lo.

Meu pai tinha manifestações com entidades e minha mãe também frequentava as casas de encostos. Éramos oficialmente católicos durante a semana e às sextas-feiras, buscávamos os espíritos. As brigas foram marcas fortes que ficaram na família nessa época. Um período em que minha mãe contraiu uma tuberculose, que consumiu dela um pulmão e meio; meu irmão mais velho se revoltou e saiu de casa, passando anos sem falar com a minha mãe; outro irmão morreu aos 16 anos, vítima de parada cardíaca; uma irmã adquiriu um tumor no seio que progredia para um câncer; e eu também fui acometido por uma doença, sem diagnóstico médico (depois soube que tinha sido um feitiço feito para mim), que me fez perder o movimento das pernas. Na época, eu já era jogador de futebol.

Como surgiu o jogador profissional?

Eu sempre fui muito apegada à minha mãe e, por isso, acabava absorvendo todos os problemas de casa, embora fosse ainda muito jovem. Como o que eu mais gostava de fazer era jogar futebol, e tinha como foco chegar a ser um atleta profissional, acabava sendo o campo de futebol um refúgio, um lugar onde eu esquecia os problemas de casa.

No período em que eu adoeci, minha mãe começou a frequentar a Igreja do bairro Padre Miguel, no Rio de Janeiro (RJ), à época com dois anos de existência. Ela, então, me perguntou se eu queria ir até lá. Na época, eu estava há semanas sem me alimentar e quase sem o movimento das pernas. Um tormento para quem tinha como maior desejo ser um jogador de futebol profissional.

Acompanhado pela minha mãe, cheguei à IURD numa quarta-feira. Lembro que, a princípio, achei a reunião muito chata porque eu estava sentindo muitas dores, a ponto de não conseguir ficar em pé. Até o pastor começar a orar. A partir daquele momento, quanto mais ele falava, parece que a voz dele penetrava nos meus ouvidos e fazia uma revolução dentro de mim, o que me provocou ânsia de vômito. Acabei vomitando muito dentro da igreja, na hora da oração. E quanto mais eu tentava evitar, mais eu vomitava.

Então, imediatamente, eu voltei a sentir minhas pernas, senti fome. Nos dias seguintes (quinta e sexta-feira), voltei à igreja e, de novo, vomitei muito. Uma obreira, que nos atendeu, disse à minha mãe que aquilo era resultado de um trabalho de bruxaria feito para mim. Comecei ali um processo de libertação na igreja, retomei as atividades no futebol, mas, a princípio, eu não me converti. Passei a ser um mero frequentador.

O que fez o senhor se converter de verdade?

Aos 17 anos, jogando no Campo Grande Atlético Clube, no Rio de Janeiro, fui convocado para a Seleção Brasileira Juvenil de Futebol. Um momento em que passei a pegar firme na Igreja; parecia até um cristão autêntico.

Logo depois, houve uma seleção para disputar um torneio internacional em Cannes, mas fui substituído por outro jogador da mesma idade, que já era profissional a mais tempo do que eu. Aquilo me causou uma frustração muito grande. Psicologicamente abalado, meu rendimento começou a cair e logo saí da Igreja. Pensei até em abandonar o futebol. Como eu ainda não tinha nascido de novo, não tive estrutura para suportar aquele momento difícil, o que levou alguns anos até eu conseguir superar.

Eu recordo-me de uma partida na qual eu joguei muito mal, sendo até substituído. Nesse dia eu chorei muito. Estava angustiado por não saber o que estava acontecendo comigo. Então, a Dona Creuza, uma amiga da família e membro da IURD, disse que ia orar por mim. Na quarta-feira fui jogar contra o Fluminense, partida na qual eu joguei muito bem. Isso foi dia 5 de setembro de 1984. Na quinta-feira, aos 20 anos de idade, eu tomei uma decisão e entreguei a minha vida para Jesus. No mesmo período, eu me tornei um jogador de futebol profissional e o meu interior foi mudando. Comecei a me envolver com Deus, com as coisas da Igreja, fui abandonando os maus costumes, até que eu tive a maior experiência que um homem pode ter: um encontro com Deus. Houve uma transformação dentro do meu ser. Dali em diante, todo o meu interior mudou e a minha vida foi dividida entre o antes e o depois.

Como se deu o chamado de Deus para o altar?

Após meu encontro com Deus, minha esposa também passou a frequentar a Igreja e se converteu, foi quando comecei a recuperar minha auto-estima, a minha vontade de jogar futebol. Reconquistei minha forma, fiz um excelente campeonato, mas já começava a me sentir um peixe fora d’água dentro do campo de futebol. Nesse tempo, eu já era obreiro. Eu era ovacionado, muito assediado pela imprensa e torcedores, estava começando a concretizar aquele que, até então, era meu grande sonho. Por outro lado, eu já fazia reuniões, ajudava os pastores, e, fazendo uma oração pelo povo, sentia aquela realização que eu imaginava sentir no estádio de futebol. A confusão tomava conta da minha cabeça. Comecei a orar pedindo uma resposta a Deus.

No final desse ano, em que disputei o campeonato sul-mato-grossense, eu recebi a proposta dos sonhos: o São Paulo se interessou pelo meu futebol. Houve, então, um contato entre os clubes e foi divulgado que eu estava sendo transferido para o São Paulo Futebol Clube a fim de assumir o lugar do meia-esquerda Pita, que estava sendo vendido para um clube fora do País. Acabando as férias, eu iniciaria os trabalhos no São Paulo.

Nesse meio tempo, eu participei de uma reunião no Maracanã, com o Bispo Edir Macedo, num domingo. Foi uma reunião muito forte, onde tudo se definiu. Na segunda-feira, o Pastor da IURD de Padre Miguel (RJ) perguntou se eu tinha coragem de largar o futebol e ingressar na obra de Deus. E eu respondi: sim!

Como é conciliar a responsabilidade de ser bispo, marido e pai ao mesmo tempo?

Ser Bispo, marido e pai, ao mesmo tempo, torna-se fácil porque, além de ter uma esposa convertida, nascida de Deus, e focada no mesmo propósito, eu tenho um filho também no mesmo objetivo.

Eu me lembro de um momento em que eu fui transferido para outro estado e meu filho me abraçou e abraçou a minha esposa, os três juntos – cabeça com cabeça – e disse: “Pai, nós estamos juntos. Para onde nós formos, Deus é com a gente. A gente está unido”. Então, assim fica fácil. Quando você tem um casamento sólido e a sua esposa e filhos estão no mesmo espírito, focados no mesmo propósito de ganhar almas e transformar a vida das pessoas, a renúncia, nesse sentido, passar a ser imperceptível.

Diante de tantas responsabilidades, quando há algum tempo livre, o que o senhor costuma fazer?

Eu gosto de jogar futebol. Sempre que dá, me reúno com os pastores e jogamos um pouco. Alguns até pedem umas aulinhas.

Este ano a IURD completou 33 anos de existência. O que o senhor tem a dizer?

Desde o dia em que comecei a frequentar até hoje, são 31 anos de Igreja Universal do Reino de Deus, a qual, como membro, considero a minha casa, o meu quarto, o lugar mais confortável. Como missão, ela é a última. Eu não vejo outra igreja que tenha a intenção que existe no interior da liderança da Igreja Universal. Eu amo a Igreja Universal do Reino de Deus.

O que o bispo Macedo representa para o senhor?

No mundo atual, ele é a expressão dos heróis do passado que fizeram história com Deus. Na atualidade, um Abraão que se destaca pela fé e sacrifício; um Moisés que se revelou como libertador de Israel; um Josué que tinha a marca da perseverança; um Davi que era homem de guerra; um Elias que era considerado pelos inimigos da época o perturbador de Israel e, sobretudo, o servo do Senhor Jesus que estabeleceu seu ministério na justiça, misericórdia e fé, curando, libertando, ensinando e salvando todos quantos desejavam.

Qual o conselho o senhor dá aos jovens que desejam fazer a obra de Deus?
A obra de Deus é como uma rosa: muito bonita, mas tem seus espinhos. Muitas vezes, encantados pela beleza, você pega a rosa de qualquer jeito e esquece os espinhos. Isso porque nós somos considerados o lixo desse mundo. Quem faz a obra de Deus, no Brasil, especialmente, é taxado como qualquer coisa, menos como sério, seja pela imprensa, pela mídia ou pela sociedade, esta que torce o nariz quando ouve a palavra “bispo”. Pastor tornou-se sinônimo de ladrão, enganador, bandido. Nós não temos o apoio do mundo. Esse é o lado espinhoso da obra de Deus. Mas quando você consegue vencer esse lado, logo percebe a beleza da obra. O jovem precisa estar consciente de que vai enfrentar muitas adversidades, e estar focado num único propósito: ganhar almas, seja onde for, esteja onde tiver, na posição que o Espírito Santo quiser que ele fique.

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